Existem escritores que querem apenas escrever e delegar para outra pessoa, empresa ou profissional as demais etapas que envolvem o mercado editorial, mas essa dinâmica de trabalho não funciona assim, principalmente quando o assunto é divulgar o seu livro.
Antes, na vida de um escritor, mais da metade tempo era dedicado à escrita, e uma pequena parcelava ficava para a divulgação. Os autores participavam de eventos, clubes, rodas de leitura, congressos e entrevistas, e era basicamente esse o escopo de divulgação de um livro. Com a internet, as redes sociais e a democratização da informação, a situação atual mudou totalmente.
Existem pesquisas recentes mostrando que nós passamos cerca de 91 horas por semana em frente as telas. Desse número, quase 72 horas são divididas entre atividades de entretenimento, principalmente.
A dinâmica da criação de conteúdo mudou
Uma mudança extremamente importante nessa transformação que a internet trouxe é a criação de conteúdo. Hoje não são apenas os grandes veículos de comunicação que fazem propagandas, divulgações, criam matérias e transmitem informação aos demais. Com a democratização da internet e as redes sociais, nós também somos criadores de conteúdo! Você, por exemplo, poderia estar assistindo a televisão e dando audiência para algum programa. Ao contrário, está aqui comigo, lendo este artigo, este conteúdo criado e pensado para em você, o meu público-alvo.
Como antes os escritores não tinham uma plataforma própria e o limite geográfico era pequeno para expressar ideias ou se relacionar com a audiência, um livro que não tivesse força na mídia não sobrevivia. Atualmente, a dinâmica de trabalho do escritor mudou completamente. O autor tem o poder que nunca teve antes: de alcançar a audiência onde quer que ela esteja, mas para isso é preciso dedicar mais tempo à divulgação.
As editoras também começaram a entender que um autor que trabalha na divulgação do próprio livro, que tem uma audiência, um público fiel, e que é presente nas redes está diretamente ligado com uma obra com maior previsibilidade de vendas. Então, a plataforma utilizada, que é a base desse autor, passou a ser considerada um ponto positivo na hora de a editora contratar o livro.
Aqueles que não têm o interesse em contratar os serviços de uma editora tiveram as possibilidades expandidas ainda mais! A vida antes da internet de um autor autopublicado era muito complicada, pois ele tinha bem menos ferramentas para construir e ampliar a sua audiência. Antigamente, um autor independente dificilmente conseguia furar a bolha composta apenas de seus amigos e familiares, e dificilmente vendia livros para desconhecidos por conta da limitação geografia.
Atualmente, por outro lado, as pessoas se conectam em qualquer lugar do mundo, pois a internet possibilita a ligação e a interação independentemente da sua localização, aumentando as possibilidades de um escritor expandir seu público e conquistar mais pessoas.
O poder da comunicação saiu do guarda-chuva das grandes mídias, saiu até mesmo das mãos das editoras. Como nunca antes visto, hoje o autor pode ser o dono da própria audiência.
Contratar empresas para divulgar livros faz sentido?
Existem aqueles que desejam apenas escrever, pois é o que lhes dá prazer, e buscam empresas para divulgar livros. Entretanto, afirmo que esse é o maior erro que um autor pode cometer. A solução no mundo de hoje não é terceirizar tudo o que envolve divulgar o seu livro e se isentar dessa tarefa.
Não existem agências ou assessorias especializadas que podem cuidar de toda a divulgação de um livro por uma simples razão: cada livro é único, e cada autor é único.
Se você cruzar com alguma agência ou assessoria que promete cuidar de toda a divulgação do seu livro para você, tome muito cuidado.
É claro que é possível delegar algumas tarefas técnicas, e eu vou falar sobre quais podem ser terceirizadas, mas existem etapas e estratégias que apenas o autor poderá exercer com sucesso. Alguns exemplos são a interação e o relacionamento personalizado com os leitores, pois apenas o autor pode oferecer essa conexão com autenticidade.
Gestão da divulgação de um livro
Antes de explicar o que é possível ou não terceirizar, precisamos entender um pouco sobre gestão. Aqui, existem três etapas que precisam estar definidas:
- A estratégia: a visão do projeto, determinar os objetivos;
- A tática: como fazer, planejar as etapas do projeto; e
- A operacional: botar a mão na massa, fazer a ideia efetivamente sair do papel.
As empresas funcionam nessa hierarquia. Geralmente, existe um empresário, os sócios e/ou um conselho que fazem o papel estratégico. São eles quem irão analisar os balanços da empresa, decidir por qual caminho é melhor seguir para alcançar o objetivo pré-estabelecido. Depois, vem os diretores e os gerentes, cumprindo o papel tático. É quem irá estudar e analisar como colocar as decisões em prática. Por último, entra o operacional, quem está lá executando o que foi planejado.
Essa cadeia serve tanto para uma empresa multinacional como para você, dono do seu projeto, no qual precisará realizar ações, tomar decisões e executar atividades estratégicas, táticas e operacionais.
Decisões estratégicas não devem ser terceirizadas
Por exemplo, vamos falar sobre a capa da sua obra (algo importantíssimo na hora de divulgar o seu livro). Pensando em nível estratégico, o autor determina o título e a ideia que quer transmitir nessa capa. Depois, vamos para o nível tático, no qual ele precisará definir a linguagem a ser utilizada, se vai ser uma capa com foto, com ilustração abstrata, com ilustração mais concreta etc. Nessas etapas, quem deve tomar a decisão é você, pois não há ninguém no mundo que conheça melhor o livro que está sendo produzido. Você pode até pedir opiniões alheias, mas a decisão é do escritor. Já para a parte operacional, a não ser que você seja um ilustrador ou fotógrafo (e que trabalhe na mesma linguagem que a obra), será preciso delegar.
Lembre-se do que sempre falamos sobre a expectativa do leitor. Se a sua capa não estiver de acordo com o que ele espera, pode surtir o efeito contrário.
Às vezes, o barato sai caro. O autor decide fazer a própria capa no Canva, que é uma plataforma gratuita. O layout pode até ficar bonito, mas será que ele é eficaz? Ele conversa com o seu público? Será que você utilizou a linguagem do gênero, a combinação correta de fontes? Querer economizar demais pode tirar o potencial de venda. Por isso, é necessário estudar e identificar o que pode ser feito por você e quais tarefas vão precisar de outro profissional qualificado. Se você é bom em alguma atividade que poderia terceirizar, tudo bem realizá-la. Mas seja sincero e se pergunte: “O meu “bom” é o suficiente para o trabalho ter um nível de profissionalismo?”.
Para deixar mais claro, aqui vai uma lista de atividades para as quais podemos contratar uma empresa ou um profissional que execute o serviço com maestria e qualidade:
- Capa;
- Edição;
- Revisão;
- Diagramação;
- Criação de artes de divulgação;
- Assessoria de imprensa;
- Tráfego pago para redes sociais e Google;
- Gestão de conteúdo de redes sociais;
- Roteirização e edição de vídeos;
- Otimização de artigos para a internet (SEO); e
- Gestão de base de e-mails.
São etapas que um escritor dificilmente conseguiria fazer por conta própria. Portanto, vale a pena delegar para outros profissionais e dedicar o seu tempo ao aspecto estratégico de cada uma dessas atividades.
Perguntas que você já deve saber a resposta ANTES de contratar um desses serviços:
- Que tipo de retorno esperar desta contratação?
- Quais as características demográficas e psicográficas da minha audiência?
- Qual o objetivo desta contratação, em termos mensuráveis?
- Qual o valor justo a ser cobrado por esse tipo de trabalho?
- E muitas outras.
Contratar sem estratégia e consciência pode prejudicar seu livro
No planejamento dessa divulgação, o escritor precisa saber quais são as livrarias e as regiões importantes para ele e, principalmente, onde o seu público está presente. Hoje, com o comércio dentro de um celular, fica difícil fazer uma carreira de sucesso na escrita sem a Amazon. Porém, mesmo assim, não deposite todos os ovos em uma só cesta. Estude estrategicamente a sua audiência e as suas possibilidades de distribuição.
As editoras fazem esse serviço de localizar os melhores lugares, dentre os próprios parceiros, para expor o livro. Entretanto, você como escritor é quem tem melhor ligação com o público e precisa estar a par dessas escolhas.
Se você não tiver uma estratégia definida, o livro vai parar nos lugares “mais fáceis” e não nos lugares certos. Lembra-se daquela frase da Alice no País das Maravilhas, “para quem não sabe para onde vai, qualquer caminho serve”? Ou seja, você deve ter consciência do trabalho que a editora pode e pretende fazer, analisar se condiz com a estratégia e o gênero do livro, e participar das etapas possíveis, como dar autógrafos, tirar fotos no local de exposição e realizar outras ações que o auxiliam a divulgar o seu livro para aqueles que estão em contato com a fonte: você.
Sua Zona de Influência é o ponto de partida da sua estratégia
É preciso encontrar a intersecção dos seus pontos fortes de comunicação com os interesses da sua audiência, pois isso resultará na sua zona de influência, ou seja, você deve unir estrategicamente seus pontos fortes com o que o seu público consome, se interessa. Só assim, conseguirá chegar neles e passar a sua mensagem de forma eficaz.
Suas Linhas Editoriais vão determinar seu cronograma de comunicação
Além disso, é importante definir as linhas editoriais, os temas que você vai trazer além do seu livro, pois, convenhamos, só falar da obra é uma furada, porque a sua rede social pode ficar monótona e entediante. Se as pessoas entenderem que você só está ali para vender e que não tem mais nenhum interesse, nem mesmo criar essa aproximação com aqueles que estão ali dando audiência, os seus dias nas redes sociais estão contados.
Os níveis tático e operacional da divulgação
Pensando na parte tática para divulgar o seu livro, precisamos estudar qual é o melhor horário para fazer as postagens, a melhor hora para fazer uma live para que muitos possam participar, qual é o formato que seus posts devem ter, a linguagem a ser usada, a quantidade de interações na semana ou no mês, se vale a pena impulsionar…
Partindo para a mão na massa, pensamos em qual arte e qual legenda são melhores para impactar o público e conseguir com que ele interaja ou tenha carinho e apreço pelo seu serviço. Aliás, essa parte prática de montar e fazer as postagens já é a operacional, e pode ser terceirizada.
Exemplo prático: Youtube para escritores
Se ainda não ficou muito clara essa divisão, vamos usar o YouTube como exemplo. Se o seu público for ativo nessa plataforma, e você tiver as habilidades que ela requer, pode terceirizar alguns serviços para que seu vídeo seja exposto. Nesse quesito, pode ser um profissional que edite o vídeo que você gravou previamente (após estudar a linguagem que as pessoas que consomem seu conteúdo conhecem e gostam). Também é possível contratar alguém que entenda como funcionam as estratégias, as métricas e os fluxos do YouTube.
Porém, perceba que você pode contratar a melhor produtora audiovisual, contratar o Steven Spielberg, ter a filmagem mais tecnológica e bonita e mesmo assim não alcançar o seu objetivo. Para terceirizar alguns serviços, é preciso buscar alguém com experiência no conteúdo e na plataforma em que você deseja atuar, essa é a tática.
Eu não gosto de marketing. O que fazer nesse caso?
Existem pessoas que não gostam de fazer marketing. Nesse caso, basta contratar alguém que tenha conhecimento suficiente na área, mas não adianta achar que você pode sair de cena. É você pessoalmente quem deve dar as diretrizes estratégicas para que o profissional venha com a própria bagagem e, juntos, vocês garantam o sucesso do projeto. Além disso, tenha ciência de que é preciso construir a sua zona de influência antes, para que você não gaste tempo e recursos num lugar em que não vai gerar influência e engajamento, combinado?
Lembre-se de que ninguém cresce só fazendo o que gosta. É preciso assumir a responsabilidade pela parte estratégica na hora de divulgar o seu livro. Você não precisa necessariamente executar, mas deve ser o principal atuante nas decisões, deve fornecer as informações necessários sobre o público e, principalmente, deve estar por perto em cada ação. Para o restante, não tenha medo: busque bons profissionais e coloquem a mão na massa!
